quinta-feira, 29 de junho de 2017

179 de 365 - "Tanta coisa e não tenho nada para vestir!"

Nunca fui viciada em compras, sobretudo no que se refere ao vestuário. 
Cada vez mais, considero o "vestir" apenas  uma necessidade básica, mas estaria a mentir se dissesse que não ligo patavina à aparência ou que seria capaz de vestir a primeira coisa que me aparecesse à frente...

Uma das coisas que, a pouco e pouco, me vai desprendendo de tudo isto é o modo como comecei a encarar o consumo, a facilidade com que somos levados a adquirir coisas, coisas essas que muitas das vezes nem nos fazem falta.
Aprendi, por experiência própria, que ao assumirmos uma vida mais simples, mais descomplicada "o menos tornar-se mais" e não é por ter uma camisola ou um par de sapatos novos que me fará mais ou menos feliz.

Por fim, e não menos importante, é aquilo sobre o que quero escrever hoje, o chamado "fast fashion".
Este é um conceito cada vez mais presente nos nossos dias e está a conduzir o mundo da moda (ou vice-versa) por caminhos muito complexos e desumanos.
Desde que vi o documentário "The true cost" e li sobre todo este flagelo, nunca mais fui a mesma.

Quando entro numa loja, principalmente nas grandes cadeias de moda "acessível", a primeira coisa que me vem à cabeça são imagens como o trágico acidente no Rana Plaza no Bangladesh (onde morreram mais de 1100 pessoas). Não esqueço as lágrimas daquelas mulheres e meninas que trabalham 12 a 16 horas por dia (apenas com uma porção de arroz diária no estômago e uns míseros 30 a 60 dolares ao mês). Não consigo apagar da minha mente a imagem dos bebés que dormem no chão junto aos pés das suas mães, enquanto estas cosem as t-shirts giras e tão em conta que todos nós adoramos ter, só porque sim...
Sinto-me cada vez mais preocupada com estas situações, já para não falar do desgaste e destruição ambiental que esta produção desenfreada causa!
Nos dias que correm, somos levados a substituir sistematicamente os nossos bens, já não os consertamos ou reutilizamos, limita-mo-nos a deitá-los fora e a adquirir novos. 
Estes pequenos gestos, que nos parecem tão banais, causam danos irreparáveis ao nosso planeta.  

No nosso país são poucas ou quase nenhumas as lojas que vendem produtos de acordo com os critérios de um comercio justo e sustentável (a preços mais ou menos acessíveis) o que é de lamentar, pois assim é mais difícil escapar aos grandes "monstros" da "fast fashion" e outros.
Sei que, por enquanto, não conseguirei fugir a isto, pois a oferta de produtos alternativos torna-se um pouco inacessível para mim. O custo dos portes por vezes é mais elevado do que a própria peça e para uma mãe de dois filhos com orçamento limitado, nem sempre é fácil. 
Contudo, acho que o facto de estar desperta para esta questão, abre-me novos horizontes, faz-me pensar duas vezes antes de comprar uma peça.

Felizmente existem por esse mundo fora algumas pessoas preocupadas com estas questões e sobretudo preocupadas em divulgá-las.
As grandes marcas, até à data, têm fugido às responsabilidades e só visam lucros, mas acredito que com a sensibilização para questões tão desumanas e pertinentes algo poderá ser feito.
No entanto, não acredito nos boicotes às marcas, a questão não se resolve por ai, mas divulgar e fazer pressão para que se tomem atitudes, se façam mudanças de políticas e princípios, fará com certeza toda a diferença.

Assim como, se todos nós tivermos conscientes de que ter mais coisas não faz de nós melhores ou piores, e que tudo parte de um principio, aquilo que procuramos está em nós e não naquilo que compramos, o nosso legado será, com certeza,  "um futuro melhor".





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